Cheguei na beira do porto haviam três barcos encostados. Um deles com uma bandeira preta de pirata. Pensei ser um daqueles barcos de turista. Não dei bola. Segui em frete e vi na placa, “rodízio de camarão”. Pensei na fome que me atordoava, no sol forte e entrei sem dar conta se tinha ou não dinheiro para pagar a conta. Logo pedi uma cerveja, ela veio gelada. Olhei para os lados não havia ninguém. Ei, espere!, havia alguém lá no fundo escuro do bar! Com uma grande caneca e um chapéu de costas para mim. Roupas de pirata. De repente, duas meninas índias entraram no bar e cruzaram todo o salão. Sumiram atrás de cortina. Pensei no calor, dei um gole na cerveja e abri minha carteira. Tinha algum dinheiro. As duas meninas voltaram sorrindo, mas não para mim. Lá atrás, o pirata com perna de pau fumava um cachimbo com cheiro de chocolate. Percebi que tinha entrado em um filme. O diretor gritou "Corta" e eu fiquei encenando a mim mesmo. Fiz o meu papel cotidiano de otário com cara de otário. Esse, desde que lembro, foi sempre meu melhor papel. O pirata levantou segurando em uma das mãos sua caneca pela metade. Sorri como alguém que está em um filme. O diretor gritou “ação” e me fiz de idiota sem qualquer esforço. Pensei que o mundo era feito de câmeras a nos espionar, tipo 1984, depois cai na real, nada pior que olhos. O pirata abriu um mapa velho do tesouro. Atrás dele, as duas índias deixaram voar algumas araras coloridas. Minha porção de camarão fedorenta chegou trazida por um garçon invisível. Fiquei olhando para as ondas tolas atrás do vidro que separava os camarões fritos do mar. Pensei “acho que estou no Brasil”, mas tive sérias dúvidas. Aí lembrei de uma piada que não tem graça nenhuma e tive certeza que estava na Colombia. Depois pedi outra cerveja. As índias voltaram fumando um cachimbo com cheiro conhecido. Fiquei de cara. Eu seria um estrangeiro? Nada disso, comi um camarão com limão. Pensei na noite anterior. Lembrei das loucuras todas, como aquele cara poderia ser eu? Esqueci-me de mim mesmo. Joguei meu cartão de crédito sobre a mesa e pedi ao garçon a conta. Tudo é tão fácil quando se tem dez vezes para pagar. O pirata me olhou como um vendedor de livros. O papagaio em seu ombro gritou “América”. Vi as duas índias trocando alguns dólares com dois colombianos de chapéu panamenho. Senti dor de barriga e dei um grande gole na cerveja quente e gritei em minha cabeça “Nada será melhor que o Agora...” escrevi um poema:
A Vida Doce,
mais que nunca, reclama
pelo sol que abre os sonhos
aqui e em qualquer lugar.
A Poesia, sim!
Sempre a Poesia
é que abre o sol,
mesmo quando chove.
Doce Vida,
teus lábios beijo,
como amante te quero
desfrutar em abraços!
Boemia, minha amiga,
nunca me deixas só!
Vida Doce e Boemia,
as melhores mulheres
que um homem
pode ter!
A Vida Doce,
mais que nunca, reclama
pelo sol que abre os sonhos
aqui e em qualquer lugar.
A Poesia, sim!
Sempre a Poesia
é que abre o sol,
mesmo quando chove.
Doce Vida,
teus lábios beijo,
como amante te quero
desfrutar em abraços!
Boemia, minha amiga,
nunca me deixas só!
Vida Doce e Boemia,
as melhores mulheres
que um homem
pode ter!