sexta-feira, 9 de maio de 2008

Como John Stills fez amizade com Demétrio Scadelli e um tal Jim

Ontem, encontrei Demétrio Scadelli perdido em um bar de papel. Ele me cedeu o poema abaixo escrito em algum lugar entre Marrocos e Java que resolvi publicar. Demétrio escreve coisas que jamais são publicadas. É um grande escritor, apesar de ser pessimista.
Certa vez, lembro, acho que em 1968, na Califórnia, eu de Demétrio ficamos dois dias presos em um congestionamento infinito. Naquela época, trabalhavamos em uma empresa que importava chop da Alemanha. Era uma loucura, um emprego detestável, pois havia um controle nazista para que o chop não fosse transportado a uma temperatura maior que 4ºC negativos.

Naquela tarde, presos sob o sol californiano, sem ter controle sobre nossa situação, capturados pelo tédio mortal do trabalho braçal e pela pressão stressante da produtividade empresarial, envolvemo-nos no dilema mais curto da história humana. Um olhar cúmplice nos levou a ação mais provável... Com aqueles 10.000 litros de chop gelado, nada mais poderia ser feito, a não ser, beber. Abrimos um barril de chop e ficamos sentados na mureta da praia olhado o mar, sentindo a brisa quente, discutindo Willian James e Edgar Alan Poe enquanto caia a tarde e o congestionamento irritava os que se irritam com congestionamentos.

Não tardou, Demétrio boa pinta, juntou ao seu redor um harém de lindas californianas que iluminaram nossas vidas como lamparinas em noite sem lua. Todo o mundo se reduzira ao amarelo solar do chop alemão e ao nosso cenário de beldades a beira da praia.

Do outro lado da rua estreita, havia uma casa velha em que moravam alguns músicos. Como bons músicos e excelentes farejadores de festas, logo proporam-se (em troca de alguns goles) a montar toda a sua aparelhagem ao lado do nosso caminhão. Fiz amizade com um tal Jim, que cantava na banda chamada As Portas (nunca mais o vi, dizem que morreu).

Cara, ficamos dois dias presos no tal congestionamento - que dilema- bebemos um caminhão de chop ouvindo o bom e velho Rock´n´Roll, cercados das mais lindas garotas da Califórinia.

É por isso que eu considero Demétrio Scadelli um cara de sorte, sério trabalhador e boa pinta, apesar do seu sobrenome.