sexta-feira, 23 de maio de 2008
John Stills e o Mundo no Avesso
Ontem, encontrei um buraco no chão e entrei. O mundo é oco e completamente vazio. Caí desesperadamente para o centro. Lá no meio do mundo, achei uma corda e um sapato de ventosas. Pela corda, subi até a casca do mundo. Com o sapato, caminhei pelo interior da casca, como alguém que caminha no teto. Ri dos meus cabelos em pé. E tudo ali era simples, vastidão sem objetos, sem arestas ou ferpas. Uma frase, escrita no chão-teto da casca do mundo, dizia: "para achar a saída, basta encontrar a luz". Vi, então, que o sol penetrava no centro do mundo por milhares de buracos iguais ao que eu entrara. Imaginei que cada um deles era uma saída. Botei a cabeça para fora de um deles. Vi que ali fora não havia nada. Achei melhor voltar para meu mundo às avessas. Depois, encontrei outro buraco. Espiei para fora e quase fui atropelado por um elefante indiano. Pensei estar mais seguro dentro do avesso do mundo. Mas o mundo às avessas é tão chato! As horas passaram e percebi que a luz enfraquecia. Ela se avermelhava. Encontrei outra saída e dei uma olhada para fora. Vi um por do sol magnífico. Você estava me esperando, sorrindo, radiante. Então saí do avesso do mundo, tirei os sapatos de ventosas e voltamos para casa.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Como John Stills fez amizade com Demétrio Scadelli e um tal Jim
Ontem, encontrei Demétrio Scadelli perdido em um bar de papel. Ele me cedeu o poema abaixo escrito em algum lugar entre Marrocos e Java que resolvi publicar. Demétrio escreve coisas que jamais são publicadas. É um grande escritor, apesar de ser pessimista.
Certa vez, lembro, acho que em 1968, na Califórnia, eu de Demétrio ficamos dois dias presos em um congestionamento infinito. Naquela época, trabalhavamos em uma empresa que importava chop da Alemanha. Era uma loucura, um emprego detestável, pois havia um controle nazista para que o chop não fosse transportado a uma temperatura maior que 4ºC negativos.
Naquela tarde, presos sob o sol californiano, sem ter controle sobre nossa situação, capturados pelo tédio mortal do trabalho braçal e pela pressão stressante da produtividade empresarial, envolvemo-nos no dilema mais curto da história humana. Um olhar cúmplice nos levou a ação mais provável... Com aqueles 10.000 litros de chop gelado, nada mais poderia ser feito, a não ser, beber. Abrimos um barril de chop e ficamos sentados na mureta da praia olhado o mar, sentindo a brisa quente, discutindo Willian James e Edgar Alan Poe enquanto caia a tarde e o congestionamento irritava os que se irritam com congestionamentos.
Não tardou, Demétrio boa pinta, juntou ao seu redor um harém de lindas californianas que iluminaram nossas vidas como lamparinas em noite sem lua. Todo o mundo se reduzira ao amarelo solar do chop alemão e ao nosso cenário de beldades a beira da praia.
Do outro lado da rua estreita, havia uma casa velha em que moravam alguns músicos. Como bons músicos e excelentes farejadores de festas, logo proporam-se (em troca de alguns goles) a montar toda a sua aparelhagem ao lado do nosso caminhão. Fiz amizade com um tal Jim, que cantava na banda chamada As Portas (nunca mais o vi, dizem que morreu).
Cara, ficamos dois dias presos no tal congestionamento - que dilema- bebemos um caminhão de chop ouvindo o bom e velho Rock´n´Roll, cercados das mais lindas garotas da Califórinia.
É por isso que eu considero Demétrio Scadelli um cara de sorte, sério trabalhador e boa pinta, apesar do seu sobrenome.
Naquela tarde, presos sob o sol californiano, sem ter controle sobre nossa situação, capturados pelo tédio mortal do trabalho braçal e pela pressão stressante da produtividade empresarial, envolvemo-nos no dilema mais curto da história humana. Um olhar cúmplice nos levou a ação mais provável... Com aqueles 10.000 litros de chop gelado, nada mais poderia ser feito, a não ser, beber. Abrimos um barril de chop e ficamos sentados na mureta da praia olhado o mar, sentindo a brisa quente, discutindo Willian James e Edgar Alan Poe enquanto caia a tarde e o congestionamento irritava os que se irritam com congestionamentos.
Não tardou, Demétrio boa pinta, juntou ao seu redor um harém de lindas californianas que iluminaram nossas vidas como lamparinas em noite sem lua. Todo o mundo se reduzira ao amarelo solar do chop alemão e ao nosso cenário de beldades a beira da praia.
Do outro lado da rua estreita, havia uma casa velha em que moravam alguns músicos. Como bons músicos e excelentes farejadores de festas, logo proporam-se (em troca de alguns goles) a montar toda a sua aparelhagem ao lado do nosso caminhão. Fiz amizade com um tal Jim, que cantava na banda chamada As Portas (nunca mais o vi, dizem que morreu).
Cara, ficamos dois dias presos no tal congestionamento - que dilema- bebemos um caminhão de chop ouvindo o bom e velho Rock´n´Roll, cercados das mais lindas garotas da Califórinia.
É por isso que eu considero Demétrio Scadelli um cara de sorte, sério trabalhador e boa pinta, apesar do seu sobrenome.
A VELHA E O ÓRFÃO. ( Um poema de Demétrio Scadelli-13/08/2007)
Eu tentei em vão calar minha Voz senil,
mas a Dor do Silêncio não quis assentar...
Quis sair, a velha sorrateira, com palavras mil,
De dentro do peito, que é seu lugar!
Comentário: -Volte, Indecifrável (Voz)! Miséria dos Miseráveis!
Quis armar corações com chamas iradas
e converter meu pesar em desilusão!
Porém, contra Tudo e pelas Razões erradas,
só fiz cavar mais chagas em meu Coração.
Comentário: Sou Eu, minha voz, velha sorrateira, que engano e por quem sou enganado!
Essa Voz que grita a Mentira e a Dor,
pronunciando maldades aos Ouvidos mudos (de nascença).
Empedra minha Mente, esfria meu Calor...
É uma Voz de ressentimento e mágoa!
Porque já É tempo de calar-se, Voz senil!
Deixe falar alto o Pensamento!
Comentário: Pensamento órfão, tão só! De que Puta és filho?
mas a Dor do Silêncio não quis assentar...
Quis sair, a velha sorrateira, com palavras mil,
De dentro do peito, que é seu lugar!
Comentário: -Volte, Indecifrável (Voz)! Miséria dos Miseráveis!
Quis armar corações com chamas iradas
e converter meu pesar em desilusão!
Porém, contra Tudo e pelas Razões erradas,
só fiz cavar mais chagas em meu Coração.
Comentário: Sou Eu, minha voz, velha sorrateira, que engano e por quem sou enganado!
Essa Voz que grita a Mentira e a Dor,
pronunciando maldades aos Ouvidos mudos (de nascença).
Empedra minha Mente, esfria meu Calor...
É uma Voz de ressentimento e mágoa!
Porque já É tempo de calar-se, Voz senil!
Deixe falar alto o Pensamento!
Comentário: Pensamento órfão, tão só! De que Puta és filho?
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