Fui à cozinha e abri a garrafa do Red Label. “Johnnie, my friend”, o homenzinho caminhou e acenou com a cartola. A Garrafa gritou para mim “John, my love!” e demos um longo beijo daqueles que parecem nunca acabar. Fiquei quieto por um segundo ouvindo os sons de vídeo-game da música Andy Warhol de David Bowie e rimos juntos. Nós quatro, eu, Johnnie, David e a Garrafa. É tão bom ter uma turma animada de amigos por perto. Ficamos um bom tempo falando de Andy Warhol. Olhei pela janela, Fred Green estava chegando. Fredy é um cara fino. Anda sempre elegantemente vestido com seu terno verde. Ah! E como se veste bem. Eu sorri quando ele entrou pela porta sem dizer palavra. Já sabíamos o que iria acontecer. Havia um ar de tormenta nas ruas. Um vento forte soprava em nossas cinturas esfriando tudo que vem de baixo. Nada a temer, apenas umas nuvens negras. Johnnie continuou caminhando e eu troquei muitos beijos com a Garrafa. Eu vi Fred Green tentando comer Mary Fly, a mosca, ela também adora verde, mas é difícil pegá-la. Tudo bem, Fred é um especialista nesse tipo de mulher, sua língua é infalível. Todo o meu mundo dormia tranqüilo e eu não tinha mais nada para fazer. A fumaça dos charutos cubanos que eu havia roubado da tabacaria, davam o clima de uma noite quente, da cintura para cima. Foi quando uma forte luz invadiu o ambiente. Da tormenta, surgiu uma série de relâmpagos coloridos de branco, somente branco. Olhei para meus amigos e os tranqüilizei, “Nada afundaria esse barco”. Mas o branco assumiu todas as dimensões da visão e eu não podia mais ouvir David. Caí entre os cacos de minha amada e cortei a jugular. Eu poderia ter acordado a qualquer momento, mas preferi ver o sangue negro escorrer pelas lajotas sujas. Lá fora, uma ar de tormenta gelando da cintura para baixo. Aqui, um calor de tabaco esquentando da cintura para cima.