quarta-feira, 18 de junho de 2008

John Stills e a Camiseta Preta Maldita!

Vesti aquela velha Camiseta Preta pela última vez. Como Johnny Cash, I´m allways dressing black, porque não há motivos para, nesse mundo, vestir outra cor. Como velho metaleiro saí pela noite afora. Era uma linda Camiseta Preta do ACDC ! Mas, depois de tudo, acho que estava possuída por algum demônio menor. Pois, era um pára-raios para coisa ruim. E isso foi o que me atraiu para ela desde o princípio.
O fato é que sentei, como de costume, no meu confortável canto e pedi cerveja. Estava as contas para ver até quando me sustentaria sem trabalhar. Absorvido pela matemática funerária, já que trabalho é morte na certa.
O pesadelo começou quando um bêbado inconveniente chamado Sócrates tentou conversar comigo. “Você não é daqui”, falou. Respondi que era de Marte e ele imediatamente apresentou-se. “Sócrates, cearense nascido em Manaus!”. Pronto, tudo estava indo de mal a pior. Virei a cadeira para mirar outra parede e o tal Sócrates começou a falar alto. Queria vender-me um relógio. Desses importados sabe-se lá de que oceano. Velha chatice dos bares. Velhacos que tentam vender relógios para otários. Fiquei queimado, mas calmo. Não dei a mínima para o tal Sócrates e ele, dialeticamente, ofendeu-se. Ele quis mostrar a foto de sua mãe, quer dizer, de uma puta qualquer que chamava de “meu amor”. Larguei alguma simpatia irônica que não lembro mais. Sei que acabei pegando a primeira garrafa que vi e tratei de pular como toureiro em Sevilha, me defendendo dos chifres do tal Sócrates. Ora, logo eu, que nunca me envolvo em conflitos corporais. Forçado pelo destino a estar na eminência de desmiolar um filósofo bêbado! Cinco ou seis malucos que estavam no bar trataram de dar um fim à comédia. O tal Sócrates continuou sua retórica tentando convencer outros filósofos bêbados da injusta deslealdade que eu havia cometido. “Garrafa não! É golpe baixo.” Só que o tal Sócrates, parece, já havia importunado meio mundo grego e todos ali aproveitaram o caso para lhe dar cicuta e condená-lo ao ostracismo. Continuei na minha, fazendo contas. Cheguei à conclusão que ele quis brigar comigo porque não gostava de ACDC.
Depois de horas, passado o perigo de uma revanche ou emboscada, saí caminhando em direção à praça. Olhei para o lado e vi o trem passando lentamente pela ferrovia. Em cada janela, uma mulher com uma flor branca no cabelo. Elas eram todas a mesma, todas iguais e tinham um olhar de ópio. Sorriam como Monalisa para o horizonte. Duzentos vagões passaram até que elas me vissem. Percebi que eram tatuadas na face com arabescos antigos. Pareciam dizer algo que não sei pronunciar. Assim que me fitaram, seus olhares transformaram-se de veneno opiáceo para ofídico. Senti medo. Apertei o passo. O trem começou a me seguir. Mais na frente, percebi que minha vida estava sob risco. Do telefone mais próximo, liguei para os irmãos Young. Quis perguntar se, afinal, eles sabiam o que estava acontecendo. Infelizmente não aceitam ligação a cobrar.
Senti sede e entrei novamente no bar. Olhei minha camiseta pelo espelho. Dois sinos gigantes e a frase “Hells Bells”. Tive certeza que tudo isso era uma piada. A mulher do trem entrou no bar a minha procura. O diabo, muitas vezes anda sobre delgadas pernas e com meias três quartos.

Revirei-me na cama e a cena mudou. Estava ao lado de uma floresta transilvânica. Vi, na noite escura, uma criatura negra sobrevoando minha cabeça. Algo como um morcego gigante que ficou fazendo rasantes, emitindo grunhidos de filme de terror. Seria um vampiro? Corri feito louco, mas não havia para onde correr. Tropecei e cai em umas pedras. Não senti dor, mas senti aquele algo estranho me tocando. Aquela coisa tinha a textura das sombras. E foi envolvendo meu pescoço. Era terrível. Agarrei aquela coisa com força e a afastei tentando vislumbrar o que seria. Com muito esforço pude apenas ler: ACDC, Hells Bells.
Maldita camiseta. Até nos sonhos me aterroriza. Amanhã te afogo no sabão!

terça-feira, 10 de junho de 2008

John Stills, um leitor medíocre.

(Dedico esse texto aos que são aficionados por manuais gramaticais. Eles sempre vêm aptos a dizer sobre o certo e o errado. Para esses meus amigos, eu tiro a cartola -LIKE JOHNNIE -  Sem eles tudo seria ilegível! Obrigado.)

***

Por muitos anos, bebi em muitas garrafas sem me importar com seus rótulos. Ultimamente, tornei-me um aficionado pela leitura das letras miúdas. A literatura de garrafas!

Confesso que estou abestalhado com a ebulição moderna dessa literatura em rótulos geralmente acompanhada por um fino trabalho pictórico.

Admiro como esses poetas conseguem colocar tanta emoção num recipiente tão pequeno. Muitas vezes, apenas dois ou três litros dessa poesia comovem dezenas.

Pessoalmente, como qualquer escritor que se presa, realmente, odeio ler porcaria. Como tem dito meu velho amigo Chopp´n´higher, ler é como seguir a trilha de um pensamento alheio. Prefiro pensar por mim mesmo, atolar-me nas próprias asnices e não na de outros burros como eu ( nesse ponto, um leitor com o mínimo de dignidade própria deveria fechar a página e navergar para um site mais interessante).

Todavia, os rótulos me facinam! São a nova e mais bela poesia, produto, literalmente produto de nossa era industrial. Rótulos abarcam uma estética sublime.

Como exemplo, veja-se esse autor, amigo meu, Johnnie Walker. Elegante gentleman de cartola e bengala. Obtuso e altivo! Há quem diga ser comparável ao poeta maior, Goethe. Sem trocadilhos, Johnnie é lido até a última gota em todos os continentes. Eu mesmo, toda vez que leio sua poesia, me sinto tal qual o joven Werther, apaixonado e bêbado como um idiota (Ora, que romantismo nojento é esse! Arhh! Acho que vomitei!)

Bem, onde estávamos? Johnnie, meu velho amigo e sua poesia! Veja-se o verso:

“BY APPOINTMENT TO HER MAJESTY THE QUEEN SCOTCH WHISKY”.

Nunca descobri a real profundidade desse verso, por isso sigo tentando saber se Johnnie está tratando do whisque escocês da rainha, o whisque da rainha escocesa, a escócia da rainha do whisque ou a rainha do whisque escocês. (Pouco importa a magestade, estamos no Brasil, supostamente uma repúbica de bananas.)

Tanta coisa dita ao mesmo tempo! Oh, insgotável poesia, só termina no fim. 

Alguns estudiosos dessa literatura argumentam que o verso é claro como a água de fumo, fazendo referência ao Queen e a Bohemian Rhapsody. MAMA MIA! (Hermeneutas dizerm que o verso, na verdade, refere-se a "I M´ LOVE WITH MY CAR", cantada pelo baterista, estou inclinado a aceitar esta interpretação)

Opa, mudei de assunto!  Eu preciso ficar mais concentrado. Vejamos, onde parei… Ah sim, novamente... nos versos de meu amigo Johnnie Walker : “1 LITRE BOTTLED IN SCOTLAND 40% VOL” e a aumenta o vol. “AUMENTA QUE ISSO AÍ É ROCK ´N ´ROLL”, falou e disse o inequívoco Celso!

Que loucura! Que poesia! Johnnie,  que verso sublime!: “ HIGHEST AWARDS 1996 LONDON 1925 DUNEDIN 1897 BRISBANE 1879 SYDNEY 1885 PARIS 1880 MELBOURNE 1892 KIMBERLEY 1887 ADELAIDE 1992 BRUSSELS 1891 JAMAICA”.

Que poeta! Que poesia! 

Recomendo ler todas as noites.

(Vale lembrar, para os que preferem autores brasileiros, que MODERAÇÃO - tal qual a própria esposa - não se vende, não se empresta, não se aluga. Cada um com a sua e quem não tiver que se dane!)

sexta-feira, 6 de junho de 2008

John Stills sentimetal depois de uns goles de vinho!

Estamos no fim do outono, mas já sinto um ar de primavera. 

Pressinto o anúncio da tua presença!

Mágica, eu busco a Aurora por trás da sebe.

Réstia!

Afundada em lágrimas de alegria, Aurora, és fim da noite e nascer do dia!

Olha-me por trás da colina negra!

Sol maravilhoso, aqueça meu coração!

Teu presente é a certeza da primavera no outono, tão certa quanto o calor de um gole de vinho tinto!