Acordo. Um ar cansado abomina meu quarto. Abro a janela e vou à sacada. Apoio-me sobre o parapeito. Percebo uma poeira negra sobre tudo. Há um mundo cinza lá fora. Pegajosa, a poluição suja minhas mãos. Tento limpar a minha camisa que se mancha irremediavelmente. Os olhos doem em olhar o céu que vai chover. De longe, um caminhão ronca sofrendo rochas às costas da caçamba. Dentro, o motorista fuma um cigarro e enxuga o suor e pó da testa. Da estrada, que leva para mais além, o mundo se amplia até as chaminés das fábricas. Velhas mudas, cansadas do trabalho da madrugada, fingem dormir, mas não param nunca. De baixo dos negros telhados, raspas de carvão contaminam chips, óleos grudam em circuitos, farpas de aço riscam placas de acrílico. Num metabolismo rudimentar, sofisticam dia a dia a arte de fabricar poeira.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Um Mundo Cinza
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